domingo, 28 de fevereiro de 2016

Uma janela para quem quiser ver




Hoje estou a olhar pela janela, como fizeram muitos antes de mim. Homens e mulheres angustiados, perdidos na vista de um portal para fora de si. Alguns observavam uma pequena tabacaria e trocavam olhares vazios e gestos educados sempre sem qualquer traço de intimidade verdadeira. 
Outros analisavam pobres loucos a percorrer a cidade com seus carrinhos de lixo e as prostitutas sempre a falar mais alto do que a discrição de sua labuta exige. 
Mas todos, claro, se permitiam ver e ouvir alguma verdade escondida nessa vista que por certo não se teria nessas prisões-labirinto de quatro paredes que construímos  para morrermos confortáveis. 

Hoje tudo o que tenho a observar é uma árvore. Se me perguntassem diria que quando o universo nasceu essa árvore já estava aqui, esperando pacientemente que alguém a notasse à vista dessa janela e hoje eu o faço. Seus galhos balançam com o vento e quanto mais alto os seus ramos mais eles se agitam. Mas em alguns raros momentos ela se torna totalmente imóvel e até o mais alto dos ramos  se une a essa eterna luta perdida que passa despercebida aos olhos de quem não tem uma janela para ver.
 Talvez em outro dia essa noção pudesse me dizer algo, talvez em outra oportunidade essa seria a minha verdade escondida e eu a gritaria ao mundo e com alguma sorte alguns poucos desocupados ou loucos, não só a ouviriam, mas a entenderiam de verdade e lhe teriam como algo caro. 

Mas hoje não tenho nada a tirar disso, como provavelmente você não o terá ao ler qualquer coisa escrita aqui. 

Alguns dias estamos dispostos a salvar o mundo, em outros, bem, não vê-lo implodir já é suficientemente bom.