domingo, 28 de fevereiro de 2016

Uma janela para quem quiser ver




Hoje estou a olhar pela janela, como fizeram muitos antes de mim. Homens e mulheres angustiados, perdidos na vista de um portal para fora de si. Alguns observavam uma pequena tabacaria e trocavam olhares vazios e gestos educados sempre sem qualquer traço de intimidade verdadeira. 
Outros analisavam pobres loucos a percorrer a cidade com seus carrinhos de lixo e as prostitutas sempre a falar mais alto do que a discrição de sua labuta exige. 
Mas todos, claro, se permitiam ver e ouvir alguma verdade escondida nessa vista que por certo não se teria nessas prisões-labirinto de quatro paredes que construímos  para morrermos confortáveis. 

Hoje tudo o que tenho a observar é uma árvore. Se me perguntassem diria que quando o universo nasceu essa árvore já estava aqui, esperando pacientemente que alguém a notasse à vista dessa janela e hoje eu o faço. Seus galhos balançam com o vento e quanto mais alto os seus ramos mais eles se agitam. Mas em alguns raros momentos ela se torna totalmente imóvel e até o mais alto dos ramos  se une a essa eterna luta perdida que passa despercebida aos olhos de quem não tem uma janela para ver.
 Talvez em outro dia essa noção pudesse me dizer algo, talvez em outra oportunidade essa seria a minha verdade escondida e eu a gritaria ao mundo e com alguma sorte alguns poucos desocupados ou loucos, não só a ouviriam, mas a entenderiam de verdade e lhe teriam como algo caro. 

Mas hoje não tenho nada a tirar disso, como provavelmente você não o terá ao ler qualquer coisa escrita aqui. 

Alguns dias estamos dispostos a salvar o mundo, em outros, bem, não vê-lo implodir já é suficientemente bom.


quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Beleza Na Incerteza



O amanhã não traz nada além de incerteza
e essa talvez seja a noção mais incrível que se possa ter na vida.
Existe tanta beleza nas palavras que ainda não foram ditas,
no sorriso que ainda não foi construído, 
em toda essa vida que não foi vivida.
Talvez um mundo mais bondoso nos aguarde. 
Quem sabe? 
Eu por certo não saberia dizer.
 Sei no entanto que ainda vou errar e não o espero fazer por mal.
 sinto de verdade por isso inclusive.
Mas não posso negar que sou um errante.
Vagando atrás de algum sentido. 
Me comprometo contudo com os erros honestos, 
que não me afastem de quem sou.
Que não me afastem de você.
Pelo que sei o mundo poderia acabar amanhã,
e ainda assim, a incerteza é algo realmente belo.



quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Desirée



Tão estranha é a natureza de um desejo.
Somos arrebatados por uma angustiante vontade 
e então nos vemos a mercê de nós mesmos.
Desejar é sofrer por si só.
 É querer ter o que não se tem,
recuperar o que se perdeu, partir, apenas para
perceber que queria ficar.
Me assusta a efemeridade do contentamento,
como um punhado de neve que derrete com o calor das nossas mãos. 
Estamos condenados a noção de que
se ter o que se quer é ter o que um dia se quis.



domingo, 16 de novembro de 2014

Dias Inumanos




Quem é tolo o bastante para jogar um jogo que desconhece as regras?
Mesmo assim, cá estamos todos nós, perdidos em nós mesmos.
Cada um se faz o centro do universo
e assim a apatia se alastra entre os homens.
 Como um vírus, consumindo um sem número de almas.
Deturpamos sentimentos de forma de violenta
e então, de repente você passa a se ver como um tolo,
como um louco, por acreditar no amor, por estender uma mão,
por ser sincero com alguém além de si mesmo.
Vivemos dias inumanos, fingimos entender o outro 
como quem ri ao final de uma piada que não entendeu.


sábado, 13 de setembro de 2014

Corações Como Armas




Corações são como armas.
Às vezes impessoais como uma rajada de metralhadora,
só há o desejo de se espalhar pelo mundo,
derrubar quantos puder antes de ver
a si mesmo vir ao chão.

Às vezes frios como uma faca cega.
dá-se o golpe sem intenção real de matar.
Só se quer ver alguém sangrar, deixar sua marca na pele alheia.
sem saber que muitas das vezes o apunhalado 
provavelmente preferiria estar morto.

Corações tem pré-disposição para a violência,
somos porcos espinhos, tentamos nos abraçar
e nos ferimos no processo.



segunda-feira, 1 de setembro de 2014

A Tempestade





Observo o que está por vir
e me pergunto, por que eu não fujo
quando sei que acabarei por me ferir?
talvez um orgulho imprudente arda no peito, me mantendo inerte
quando todo o corpo pede a partida.
Sei que a tormenta virá.
Uma tempestade violenta com olhos castanhos e cabelos negros
que de certo não me poupará, como manda sua natureza.
Mas que venha, penso ao final.
traga a sua violência e jogue o céu sobre a minha cabeça, 
já estou a achar graça disso tudo
 pois sempre gostei de ver a chuva cair.


terça-feira, 29 de julho de 2014

Quando corações colidem.




Nunca tive grande fé no amor, sabe?
Uma pessoa feita para a outra e todo aquele clichê?
Nunca pensei que funcionasse assim.
o que vou dizer agora talvez pareça loucura
mas eu te odiei um pouquinho quando te conheci.

Quero dizer, você era uma pessoa como outra qualquer, 
não passava de um rosto perdido na multidão,
com uma história que não me interessava
e um nome que não me importaria em gravar.
Até que não era mais.

Os ventos sopraram e fomos jogados um na direção do outro.
Por deus, eu juro, me vi assustada.
 Era como se eu já não me pertencesse mais.
então eu lutei, lutei contra o que eu jurava a mim mesma não ser amor.
mas é claro que você não se importou.
Você me quebrou, ganhou a guerra sem ter qualquer arma em punho.
Eu descobri que quando dois corações colidem, nesse exato momento, 
um universo à parte nasce.