quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Desirée



Tão estranha é a natureza de um desejo.
Somos arrebatados por uma angustiante vontade 
e então nos vemos a mercê de nós mesmos.
Desejar é sofrer por si só.
 É querer ter o que não se tem,
recuperar o que se perdeu, partir, apenas para
perceber que queria ficar.
Me assusta a efemeridade do contentamento,
como um punhado de neve que derrete com o calor das nossas mãos. 
Estamos condenados a noção de que
se ter o que se quer é ter o que um dia se quis.



domingo, 16 de novembro de 2014

Dias Inumanos




Quem é tolo o bastante para jogar um jogo que desconhece as regras?
Mesmo assim, cá estamos todos nós, perdidos em nós mesmos.
Cada um se faz o centro do universo
e assim a apatia se alastra entre os homens.
 Como um vírus, consumindo um sem número de almas.
Deturpamos sentimentos de forma de violenta
e então, de repente você passa a se ver como um tolo,
como um louco, por acreditar no amor, por estender uma mão,
por ser sincero com alguém além de si mesmo.
Vivemos dias inumanos, fingimos entender o outro 
como quem ri ao final de uma piada que não entendeu.


sábado, 13 de setembro de 2014

Corações Como Armas




Corações são como armas.
Às vezes impessoais como uma rajada de metralhadora,
só há o desejo de se espalhar pelo mundo,
derrubar quantos puder antes de ver
a si mesmo vir ao chão.

Às vezes frios como uma faca cega.
dá-se o golpe sem intenção real de matar.
Só se quer ver alguém sangrar, deixar sua marca na pele alheia.
sem saber que muitas das vezes o apunhalado 
provavelmente preferiria estar morto.

Corações tem pré-disposição para a violência,
somos porcos espinhos, tentamos nos abraçar
e nos ferimos no processo.



segunda-feira, 1 de setembro de 2014

A Tempestade





Observo o que está por vir
e me pergunto, por que eu não fujo
quando sei que acabarei por me ferir?
talvez um orgulho imprudente arda no peito, me mantendo inerte
quando todo o corpo pede a partida.
Sei que a tormenta virá.
Uma tempestade violenta com olhos castanhos e cabelos negros
que de certo não me poupará, como manda sua natureza.
Mas que venha, penso ao final.
traga a sua violência e jogue o céu sobre a minha cabeça, 
já estou a achar graça disso tudo
 pois sempre gostei de ver a chuva cair.


terça-feira, 29 de julho de 2014

Quando corações colidem.




Nunca tive grande fé no amor, sabe?
Uma pessoa feita para a outra e todo aquele clichê?
Nunca pensei que funcionasse assim.
o que vou dizer agora talvez pareça loucura
mas eu te odiei um pouquinho quando te conheci.

Quero dizer, você era uma pessoa como outra qualquer, 
não passava de um rosto perdido na multidão,
com uma história que não me interessava
e um nome que não me importaria em gravar.
Até que não era mais.

Os ventos sopraram e fomos jogados um na direção do outro.
Por deus, eu juro, me vi assustada.
 Era como se eu já não me pertencesse mais.
então eu lutei, lutei contra o que eu jurava a mim mesma não ser amor.
mas é claro que você não se importou.
Você me quebrou, ganhou a guerra sem ter qualquer arma em punho.
Eu descobri que quando dois corações colidem, nesse exato momento, 
um universo à parte nasce.





terça-feira, 6 de maio de 2014

Para Bukowski





Hoje resolvi caminhar descalço, 
queria sentir os meus  passos.
Me peguei olhando para trás,
talvez quisesse ter certeza que deixei pegadas.
provar que existe a si mesmo talvez seja loucura,
mas naquele momento, julguei ser sábio.

Depois parei no bar que costumava frequentar,
apenas para me sentir velho e inapropriado.
Algum tipo de festa ocorria ali.
Observei enquanto os jovens se amontoavam.
Urravam de alegria, o que para mim naquele momento, pareceu uma afronta
a toda melancolia que sentia.
Mostras públicas de felicidade sempre me pareceram 
 forçosas e desesperadas.
Mas no fim, acho que os invejo, provavelmente
meu copo está mais cheio que minh'alma.

Sobrevivi a seleção natural dos nossos tempos.
Religião, propaganda, política, 
predadores cruéis com certeza.
Acredito que todo homem deveria ter um ou dois vícios
que lhe afaste esses males. 

Sempre fui uma criatura inadequada.
Não nasci para ser um homem bom, 
seja lá o que isso for.



domingo, 30 de março de 2014

Cachorro Louco




Para te proteger afiei minhas presas.
Rasguei os céus e  pintei o mundo de carmesim.
Até que você não tivesse nada a temer, 
além do cachorro louco em seus braços.


quarta-feira, 19 de março de 2014

Náufrago




Estendo minha mão mas não consigo alcançar o seu rosto,
vejo sua boca mexer mas não escuto o que diz.
Ó deus que não seja o fim.
Me sinto como um navio a naufragar
e tenho medo.
Por favor me deixe toca-la
para saber que tudo está bem,
que o mundo ainda não acabou.
eu não quero ir, mas já sinto as ondas me carregarem.
De algum jeito eu sei.
É como nascer outra vez.



quarta-feira, 12 de março de 2014

Com Quantos Erros Se Faz Um Acerto?


Descobrirei com quantos erros se faz um acerto.
A única certeza que tenho são as dúvidas que carrego
mas vivo bem com esse reconfortante incômodo.

Me reservo o direito de tentar de novo,
contra todas as chances, contra tudo, contra todos.
sei que não posso ser nada além do que eu sou,
até que me torne outra coisa.


sábado, 11 de janeiro de 2014

Um Outro Nome



Esse medo de não existir
molda todo o universo como ele é.
Tudo nasce e morre dessa dúvida.
É assim desde antes do início
e sendo uma parte do todo
como poderia evitar me perguntar...
se a rosa tivesse outro nome,
ainda assim teria o mesmo perfume?